quinta-feira, 16 de junho de 2016

O MITO DA NORMALIDADE - Gabor Maté fala sobre circuitos neurais, dependência química e afeto - Quais são as nossas reais Necessidades Básicas




Por Marise Jalowitzki
16.junho.2016
http://marisejalowitzki.blogspot.com.br/2016/06/gabor-mate-fala-sobre-circuitos-neurais.html

Uma das pessoas que mais prezo neste mundo é Gabor Maté. Pelo seu conhecimento, pela sua humildade, pela simplicidade com que aborda o completo mundo da Inclusão e da Exclusão Social, pelas premissas que elenca com naturalidade e certeira definição. Não há como não entender com o coração, aceitar e professar. Ele se desvenda como um ser humano como todos, apresenta suas adições (addict) sem nenhum entrave. Realiza, com suas palavras, a construção (para os despertos) de um mundo de compreensão e acolhimento.

O texto a seguir consta de um video (link ao final) e fala sobre o MITO DA NORMALIDADE
E sobre quais são as nossas reais Necessidades Humanas.

"Em uma sociedade onde se incentiva a competição e, muito frequentemente, a desapiedada exploração de um ser humano por outro, para obter ganhos a partir da exploração dos problemas deste outro e, alem disso, a criação de problemas com o propósito de obter proveito financeiro disto, a ideologia dominante costuma justificar estes comportamentos, apelando para justificativas como “natureza humana fundamentalmente inalterável”.

Assim, o mito em nossa sociedade é: que todos somos competitivos por natureza, que somos individualistas e egoístas na gênese. A verdadeira realidade é totalmente o oposto!

Temos certas necessidades humanas. E a única forma em que se pode falar sobre necessidades humanas, concretamente, é reconhecendo que há certas necessidades humanas de companhia e de contato próximo, de ser amados, incluídos e aceitos, de ser vistos, de ser recebidos e tratados como nós somos! Se estas necessidades estão contempladas, nos convertemos em pessoas compassivas, colaboradoras e que sentem empatia por outras pessoas.


Somos uma sociedade onde a maioria das pessoas não possuem estas necessidades básicas contempladas." (Excerto de video que pode ser visto AQUI )



Circuitos neurais, dependência química e afeto

"Hoje sabemos que o desenvolvimento de circuitos cerebrais relacionados aos incentivos e à motivação, ao prazer, ao alívio da dor e ao amor – ativados pelos neurotransmissores dopamina e endorfina –, assim como dos circuitos que regulam nossos níveis de estresse e de intensidade emocional, depende muito das condições sociais, afetivas e cognitivas da primeira infância, especialmente dos primeiros três anos de vida, e até mesmo dos níveis de estresse da mãe durante a gravidez.

Podemos comparar as variações no desenvolvimento desses circuitos neuronais ao trajeto de um rio. Quanto mais perto da nascente se coloca um obstáculo, maior a mudança no curso do rio.

Quanto mais cedo a criança é submetida a altos níveis de estresse, indiferença, solidão, violência, maiores os prejuízos para o desenvolvimento desses circuitos, cujo mal funcionamento predispõe a problemas físicos e mentais, e ao vício.

Evidencias científicas:

Filhotes de rato que não são lambidos por suas mães logo depois do parto têm seu desenvolvimento cerebral prejudicado. Como o acolhimento do humano recém-nascido pela mãe, para os ratos as lambidas pós-parto são, sobretudo, um ritual de vínculo. Dura só alguns minutos e tem efeitos para toda a vida.

Nos humanos, alguns traumas precoces têm impactos tão importantes na química e estrutura do cérebro que é possível, por exemplo, identificar vítimas de abuso sexual na infância por meio de exames de mapeamento cerebral realizados décadas mais tarde.

Meninas de quatro anos de idade com alto nível de estresse (medido pela quantidade de cortisol na saliva) chegam aos 18 com os mesmos tipos de alteração cerebral, também identificáveis por exames de imagem.

Apenas analisando o eletroencefalograma de um bebê é possível saber se sua mãe está sofrendo de depressão.

Filhotes de macaco separados das mães sofrem rápidas quedas de seus níveis de dopamina, hormônio da motivação.

Cobaias geneticamente manipuladas para não desenvolver receptores de dopamina se alimentam quando recebem comida diretamente na boca, mas, se a comida é deixada a centímetros de distância, elas não tem motivação suficiente para se mover e comer, e morrem de fome.

Para o desenvolvimento satisfatório dos circuitos da dopamina, os mamíferos, e sobretudo humanos, precisam de contato e laços sociais, suporte emocional, em ambientes suficientemente seguros e tranquilos.

Os problemas havidos na infância, o trauma e a dor que estes problemas produziram, faz o indivíduo procurar encontrar uma forma de aliviar esta dor. Que pode ser pela dependência terapêutica, pode ser pela dependência medicamentosa (drogas lícitas), tanto quanto pelo uso de drogas ilícitas, que levam ao vício.  Vício não é uma escolha moral errada nem resultado de determinação genética, é o sintoma de um problema anterior. e não é ao acaso que a maioria das drogas relacionadas ao vício, inclusive o álcool, são anestésicas!

Gabor Maté Nascido na Hungria, numa família judia, durante a ocupação nazista, o médico canadense Gabor Maté é um sobrevivente do Holocausto. Seus avós maternos foram mortos em Auschwitz, e ele passou seu primeiro ano de vida em um gueto.
Décadas depois, radicado no Canadá, teve de lidar com sua própria tendência para comportamentos compulsivos – trabalho e compras eram suas drogas favoritas – e foi diagnosticado com transtorno de déficit de atenção (TDA). Médico especializado no estudo e tratamento de vícios e TDAH, Maté compreende esses distúrbios como “sintomas” de problemas anteriores, gerados por condições sociais e psicológicas, que influenciam o desenvolvimento cerebral. Teórico reconhecido internacionalmente, com grande experiência no tratamento de dependentes, é autor de quatro livros sobre seus temas de pesquisa. Um deles, “Pais Ocupados, Filhos Distantes”, foi publicado no Brasil pela Melhoramentos.
Seu último livro, “In The Realm of Hungry Ghosts:  Close Encounters With Addiction” (No reino dos fantasmas famintos: contatos Imediatos com o vício) ainda não traduzido para o português."(excerto de artigo fonte que pode ser lido AQUI.)

Videos riquíssimos:
Como seria uma sociedade de indivíduos saudáveis? por Gabor Maté

https://www.youtube.com/watch?v=ApHDQDgLlvo (42 min)








Natureza Humana - O Mito da Normalidade

https://www.youtube.com/watch?v=nt8dgbNEQKE (4 min)









domingo, 12 de junho de 2016

Crianças adotadas - o quanto os pais sabem do histórico desses pequenos?

Uma menina abusada, literalmente salva pelo empenho e determinação do casal que a adotou e a seu irmãozinho.



Por Marise Jalowitzki
12.junho.2016
http://marisejalowitzki.blogspot.com.br/2016/06/criancas-adotadas-o-quanto-os-pais.html


Muitos são os pais que contatam sem saber o que fazer com a criança "filha do coração", que começa a demonstrar raiva, revolta e agressividade além da conta. Primeiro, há que ver sobre outras crianças, filhos genéticos, a fim de ter uma ideia se o "além da conta" é isso mesmo ou apenas uma sugestão. Segundo, há que se informar o mais possível junto aos cuidadores do abrigo, as assistentes socias, para colher o maior número de informações possíveis sobre a vidinha - sempre sofrida - que um serzinho iniciante na vida já tem como bagagem. E, terceiro, item tão importante quanto os anteriores, realizar terapia psicológica, envolvendo a todos, para saber o mais possível como lidar, o que fazer nas diferentes situações, como reagir quando uma ação pega de surpresa.

Em minha trajetoria de vida tive sempre como premissa acreditar nas crianças. Isto, a cada dia, mais e mais se reforça.

Vou sempre e sempre acreditar nas crianças! Elas-nós nascem-nascemos com um extenso mapa. As demarcações de território, os pontos, as paradas, os limites, as aprovações, quem dão são os adultos! A leitura que cada criança faz, principalmente sobre a reprovação, é que vai variando a forma de ver o mundo! E afirmo: as feridas só cicatrizam com Amor, muita Paciencia, Tato, Contato respeitoso, Confiança desenvolvida ao longo do tempo. 

Mentiras, agressividade fazem parte dos experimentos do crescimento.

Do Livro TDAH Crianças que Desafiam - "Mentiras como Experimento de Liberdade" (págs 83 e 84)
Mentiras como experimento de liberdade
"Um estudo de 1977 da universidade da Califórnia do Sul comprovou que o ser humano adulto mente de 50 a 200 vezes ao dia (estão incluídas as diplomáticas, feitas para incentivar as pessoas ou não ferir alguém)! Em uma sociedade onde todo mundo mente não deveria causar grande alvoroço o fato de os adolescentes mentirem um tanto mais, embora a questão não deva ser minimizada, para não se tornar um vício na idade adulta. A diferença, tanto em crianças, em adolescentes como em adultos é QUANTO e COMO cada um sabe mentir. Saber mentir exige certa habilidade que uns desenvolvem mais do que outros. Embora que poucos tenham a coragem de admitir, mentir com jeitinho é comum, encobrir, minimizar, pedir desculpas, dizer com delicadeza que não se deu conta, são maneiras de conseguir driblar inconveniências no convívio com as demais pessoas e usadas como estratégias planejadas por alguns. Nas relações interpessoais muitos procuram se safar de reprimendas ou categorizações e apelam para convenientes saídas. O que falta para um portador de TDAH são as medidas para entrar no rol das conveniências. Somado ao fato de que, por não ser hábil na comunicação com os demais,  ele acaba se enrolando cada vez mais ao iniciar uma mentira e a coisa toma uma dimensão por vezes até dramática.

A verdade é que somos seletivos sobre quanta verdade podemos contar aos que convivem conosco."

O que é importante destacar é que pais e mães precisam buscar ajuda, seja na criação de filhos genéticos ou adotados. Sempre super válido ouvir um psicólogo, que estudou sobre os diferentes comportamentos, estrategias e saídas.

Papais e Mamãe, apostem sempre em suas crianças! E procurem ajuda sempre que sentirem as coisas frágeis! 

O filme que compartilho hoje foi um dos mais ricos neste aspecto do apostar no melhor do ser humano, que já assisti. Traz uma persistência enorme, gigantesca mesmo, de pais do coração, para uma menina que tinha problemas gravíssimos, com respostas dramáticas para o abuso de que havia sido alvo em tenra idade. E foi a tenacidade e a perseverança dos pais adotivos que, literalmente, salvam a vida da menina (e de tantos outros).A menina se reorganiza emocionalmente a partir de uma terapia que envolve o contato com animais, (que ela alimenta) e tempo, e muita paciencia e aposta!

O documentário, mostra os efeitos psicológicos que o abuso sexual engendra na mente de uma criança. A mãe dela morreu e a deixou com o pai e o irmão mais novo quando ela tinha apenas 1 ano.

Mostra que o Amor é sempre a melhor resposta.


Filme A IRA DE UM ANJO (dublado)
https://www.youtube.com/watch?v=KbV2WlaOrq0






Aqui o documentário, contendo mais declarações dos especialistas e da menina Beth Thomas.
https://www.youtube.com/watch?v=8DAWyWtjZcI - 1989







"Hoje em dia Elizabeth Thomas é uma mulher perfeitamente normal e mentalmente saudável. Se formou em enfermagem e atua na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal dando suporte as mães e cuidando de recém-nascidos.
Nancy (e) e Beth Thomas atualmente dedicam-se a cuidar de crianças com distúrbios graves de comportamento

Beth é autora do livro, “More than a Thread of Hope (Mais que um fio de esperança)” e, junto com sua mãe adotiva, Nancy Thomas, criou uma clínica para crianças com distúrbios graves de comportamento. Sua vida de sobrevivência e vitória traz esperança e compreensão para pais e profissionais, trabalhando para curar a criança afetada e, acima de tudo, capacitar os pais com uma visão positiva para o futuro do seu filho." http://www.fatosdesconhecidos.com.br/a-ira-de-um-anjo/
Querendo ler mais sobre o tema, acesse: 








Por Marise Jalowitzki
15.maio.2015
http://compromissoconsciente.blogspot.com.br/2015/05/as-cinco-etapas-emocionais-de-criancas.html








Por Marise Jalowitzki
15.maio.2015
http://compromissoconsciente.blogspot.com.br/2015/05/importancia-da-vergonha-para-saude.html









Por Marise Jalowitzki
08.maio.2015
http://compromissoconsciente.blogspot.com.br/2015/05/bullying-parental-violencia-domestica.html












Por Marise Jalowitzki
Foto top: artes de Aline Solf
11.abril.2015
http://compromissoconsciente.blogspot.com.br/2015/04/voce-sofre-de-tddc.html





Querendo, leia também: 
Desregulação Emocional -  https://en.wikipedia.org/wiki/Emotional_dysregulation
Terapia do Apego - https://en.wikipedia.org/wiki/Attachment_therapy
Teoria do Apego - https://en.wikipedia.org/wiki/Attachment_theory
A teoria do apego é um modelo psicológico que tenta descrever a dinâmica de longo prazo e de curto prazo nas relações interpessoais entre os seres humanos. No entanto, "a teoria do apego" não é formulada como uma teoria geral das relações Ele aborda apenas uma faceta específica." (Waters et al 2005:. 81): como os seres humanos respondem dentro de relações quando feridos, separados de seus entes queridos, ou percebem uma ameaça.



 Marise Jalowitzki é educadora, escritora, blogueira e colunista. Palestrante Internacional, certificada pelo IFTDO - Institute of Federations of Training and Development, com sede na Virginia-USA. Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela Fundação Getúlio Vargas. Criou e coordenou cursos de Formação de Facilitadores - níveis fundamental e master. Coordenou oficinas em congressos, eventos de desenvolvimento humano em instituições nacionais e internacionais, escolas, empresas, grupos de apoio, instituições hospitalares e religiosas por mais de duas décadas Autora de diversos livros, todos voltados ao desenvolvimento humano saudável. marisejalowitzki@gmail.com 

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