sábado, 24 de outubro de 2015

Sobre a arrogância de alguns médicos e a procura do "ser perfeito"



Porque sinto que não devo calar. Somos um somatório de experiências ao longo de nossa jornada. Toda vez que nos deparamos com equívocos, com injustiças, toda vez que ficamos em dúvida, dúvidas que não são sanadas com os médicos que estão no atendimento, temos de seguir pesquisando, perguntando, divulgando. Procurando outras opiniões médicas, outras visões, outras medicinas.



Por Marise Jalowitzki
24.outubro.2015
http://marisejalowitzki.blogspot.com.br/2015/10/sobre-arrogancia-de-alguns-medicos-e.html

Lendo vários depoimentos de mães que foram humilhadas por algum especialista, lembrei, nesta manhã de sábado, de uma passagem em que eu e uma muito querida amiga minha estávamos frente a uma médica, na ala pediátrica de um hospital aqui da capital. Felizmente, hoje já está fechado (foi interditado) e, no seu lugar, há um estacionamento.

Minha amiga, fraquinha, havia recém dado à luz e a menininha tinha suspeita de caso leve de síndrome.
Eles (do hospital) não paravam de retirar sangue da menininha, 3 -5, 'mil' vezes por dia "para acompanhar".
Eu, como leiga, reclamei, dizendo que o sistema imunológico da pequena estava sendo por demais atacado. A pequena já não tinha mais veias nos bracinhos e mãozinhas em condições de retirar sangue. Estavam até perfurando as veias das perninhas.

O "Fantástico" havia publicado por aqueles dias sobre a síndrome "recém descoberta"... e que poderia ser identificada logo ao nascer... Estava claríssimo, pra mim, que eles estavam estudando a pequenina, fazendo experimentos, mas, meu coração dizia, ela não aguentaria se continuassem...

A médica olhou-me com ar de desafio e, insensível ao quadro, insensível à dor de minha amiga assustada, a médica imitava, exageradamente, grosseiramente, pejorativamente, como a menina "iria ser", TALVEZ, na adolescência...
- Vocês querem que ela seja assim? (e encurtava o pescoço). Já viram o tamanho da testa dela?

A menininha era linda. Mamava. O corpinho todo perfeitinho. Só a testinha era apontada como mais estreita e o pescocinho estava sendo visto como mais curto que o usual.

Eu respondi:
"Talvez" não é "com certeza". Até lá, dá para fazer muita coisa! Esta síndrome não mata! Então, não dá para deixar para fazer estes exames aos poucos?

A médica olhou para minha amiga, que só chorava, virou-se e foi embora sem nada dizer.

Na manhã seguinte, fui ajudar a amiga a retirar o corpinho morto, 21 dias, da pequeninha Stela Maris que veio a óbito por uma síndrome que não matava ... Ainda aconcheguei o bebezinho inerte junto a mim, na ânsia boba de passar-lhe meu calor e vida. Meu ato desesperado passou, sim, calor ao seu corpinho, mas, a vida, esta havia sido roubada pela arrogância de uma profissional que encontrara uma cobaia para seus estudos.

Mais tarde, pesquisei sobre a síndrome que haviam comentado. Há cerca de 3 décadas, ela recém estava sendo noticiada por aqui. Ainda hoje especialistas divergem em suas argumentações. Síndrome de Beckwith-Wiedemann, uma síndrome bastante rara. Vi algumas fotos pesadas, como crianças com a língua desmesuradamente grande, o que, absolutamente, não era o caso da pequena. E, mesmo essas criancinhas que tiveram uma anomalia assim notável, foram cirurgiadas e, como diz a literatura, a maioria tem uma vida normal. Levei as publicações para alguns médicos amigos, tempos depois e estes declararam achar que houve diagnóstico indevido, pois na documentação do quadro da pequena não foi sequer mencionado hiperinsulinismo (que poderia causar certo retardo mental). E que, em nenhuma das situações ali mencionadas, seria o caso de risco de vida. Doeu ainda mais. Enfim, fato consumado. Bola pra frente.

Informação é Poder! É a informação que possibilita tomar uma decisão que, mais tarde, possa ser avaliada como a mais certeira! Assim, enquanto na ignorância, mesmo quando a intuição fala mais alto, a argumentação é incipiente e insipiente e facilmente suplantada.

Quando hoje presencio mães chorando, sem entender a linguagem médica, assinando papéis que sequer sabem a que vai levar, acreditando que a providência irá preservar a vida, quando, justamente, a assinatura é para eximir de responsabilidade a instituição hospitalar e seus profissionais de saúde das possíveis consequências, verifico quão pouco andamos em termos de humanização nos tratamentos. Exceção quem fala, explica, respeita. Quando devia ser o contrário, em todas as áreas.

Perfeição, física ou neurológica (ou ambas), simplesmente não existem!




Marise Jalowitzki
Escritora, Educadora, Blogueira 
Coordenadora de Dinâmica de Grupo,
Especialista em Desenvolvimento Humano,
Pós-graduação em RH pela FGV,
International Speaker pelo IFTDO-EUA
Porto Alegre - RS - Brasil 
marisejalowitzki@gmail.com





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